quinta-feira, 18 de julho de 2013

Memórias de outra vida

Eram por volta das 03:00 quando voltei a casa.
Como sempre não voltei sozinha.
Lá vinham elas as duas atrás de mim...As minhas duas lacaias.
Lembro-me tão bem de retirar de cima de mim o meu capuz que no escuro da noite cobria a minha cabeça.
Era como se fizesse parte do meu traje negro.
Não sei de onde eu vinha,mas de certo que não vinha de bom sitio.
Algo oculto me acompanhava de dia e de noite.
Até porque onde poderia estar eu, uma moça de boas famílias à aquela hora?
[...]

Então lá vinha o meu pai a reclamar comigo...
lembro-me como se fosse hoje a voz dele desgastada dizer-me:
"Yuna tens de casar minha filha...O povo já começou a falar..."
Todas as moças da minha idade já tinham casado lá na nossa cidade.
Eu não queria casar.Nem por nada.
Simplesmente como sempre ignorei o meu velho pai.
Eu não sentia nenhum afecto sobre tal pessoa...Nem o tratar por pai o tratava...
Apenas o desprezava e tratava-o como um mordomo.
Desprezava-o como quem despreza um animal morto na calçada da rua.
Lembro-me de chegar a casa e a lua estar no seu ponto mais alto do céu.
Cheia,resplandecente e perfeita.
[...]

Lembro-me tão bem também do olhar daquela miúda...
A miúda da esquerda, como eu lhe chamo...
O olhar dela...Olhar de ódio...Tal e qual como o meu...
Lembro-me bem também do olhar assustado da miúda da direita...
Ela tinha medo de mim.
Mandei-as se retirarem e me deixarem em paz...
Dirigi-me para a minha biblioteca, me sentei na minha secretária e comecei a fazer uma longa lista de nomes.
A lista era bastante longa com bastante numero de pessoas que eu queria as ver mortas.
Lembro-me de ouvir o barulho dos corvos lá fora e o vento a entrar pelas janelas e a desestabilizar a "paz" das minhas velas a arderem.
Acabei de escrever a enorme lista e coloquei-a dentro de um envelope.
Guardei esse mesmo envelope dentro de um livro enorme, preto de veludo com letras douradas que eu tinha sobre a mesa.
Fui me deitar para o meu quarto.
[...]

Amanheceu e eu me levantei.
Me banhei,me vesti e fui tomar o pequeno almoço.
Me sentei a comer quando as minhas lacaias me vieram dizer que o nosso responsável da casa tinha chegado.
Me levantei e fui à biblioteca buscar a minha carta e entreguei-lhe.
Ele lacrou-a com um símbolo estranho e levou-a consigo.
Lembro-me que depois desse acontecimento,peguei nas moças e ordenei o meu pajem a nos levar até à cidade.
A caminho da cidade já dentro da carruagem,lembro-me bem de ver a miúda da direita de cabeça baixada sempre em posição de reverência,enquanto a miúda da esquerda me encarava nos olhos com todo o seu ódio.
Eu odiava essa miúda...Mas meu pai tinha dado a palavra dele aos pais delas, que elas ficariam à minha responsabilidade,de forma a que tivessem melhor educação e melhor estilo de vida.
Então eu não tinha como me desfazer delas.
Chegámos à cidade e eu me lembro de ver os homens solteiros a cobiçarem-me de forma bem sedutora.
Também era para tanto...Eu era perfeita.
Corpo de sonho,pele macia branca,cabelos longos encaracolados,olhos verdes azulados e lábios avermelhados.
Eu lembro-me bastante bem de saber que eu era a moça mais cobiçada entre todas as moças, mas também sei que o meu ódio me fazia ficar privada de sentir qualquer tipo de atracção por homem algum.
Meu pai bem que queria que eu me interessa-se por alguém da nossa cidade,pois eu já estava na casa dos 30 anos e nem um possível pretendente tinha.
Não faço a mínima ideia do que aconteceu lá mas sei que voltei depois para casa já sem as lacaias comigo e eu trazia as minhas mãos com sangue.
Quando cheguei a casa, fui em direcção ao estábulo e fui buscar pão velho,pão esse onde eu esfreguei as minhas mãos, e em seguida fui dar o mesmo pão aos corvos da minha casa.
Eu sempre com o meu longo vestido preto e vermelho escuro,com um lenço de renda preto sobre a cabeça.
Depois lembro-me de ter chegado um moço dos recados com uma carta lacrada para mim, em nome do responsável pela minha casa.
Eu abri a carta e para minha surpresa vinha a dizer que o meu desejo foi realizado.
Todas as pessoas da minha lista que na noite anterior teria feito, estavam mortas, e que eu teria de me reunir com o concelho.
Não me lembro que concelho era esse...
Lembro-que eram 00:00 em ponto quando abandonei a minha casa para me encontrar com o concelho e nunca mais retornei.

A minha única visão que tenho depois disso, é a imagem da minha casa abandonada,sem ninguém lá, a não ser rodeada de corvos.
O que aconteceu ao meu velho pai?
Não sei...
O que aconteceu ás lacaias?
Não sei...

O que é certo, é que nesta vida em pleno 2013,eu já vi alguém com o olhar de ódio da miúda da esquerda e os seus lábios.
Eu tenho a pequena percepção que já descobri quem era o meu pai.
Acho que descobri quem era o homem que me amava em segredo naquela altura e que ninguém descobriu...nem eu mesma.
E tal e qual como na outra vida, nesta vida tenho 2 seres ao meu encargo.
E ainda hoje carrego os mesmos olhos daquele tempo, o mesmo ódio e a mesma sede de vingança.
Mas ao contrário daquele tempo...Hoje quero ser feliz.

In love with a Criminal

Duas da manhã,não pára de chover e de trovejar.
Não consigo dormir...Estranho...
Esta minha necessidade de querer respirar fundo e estar privada de o fazer,
está a matar-me aos poucos.
Mas às vezes penso que já me matou...
Isto já dura à dias.
E eu sei bem porquê...

Já passaram 10 dias desde que a Interpol começou a caça ao homem mais procurado em todo o mundo...

Justin Anderson

O homem por quem eu me fui apaixonar e não devia.
O homem que desde a morte de Bin Laden está a ser o mais procurado em todo o mundo.
Ninguém sabe onde ele está.
Exceto eu...
Agora imaginem a minha dor, de saber onde está o homem que eu amo e não o poder nunca mais contactar...
Sabem aquele sentimento de amor misturado com ódio?
Acho que é isso que eu sinto...
Talvez vocês se estejam a perguntar quem sou eu...
Vou contar-vos a minha história...

O meu nome é Kelsh
!

Tenho 20 anos, nasci no Texas e sou procurada pelo FBI e pela Interpol!
A história que vos vou contar, aconteceu numa chamada "simples festa de aniversário" da minha amiga Tracy.
Festa essa em que voltei a ver o grande amor da minha vida.
O Justin.
Era uma festa privada e lembro-me bem que nesse dia a festa estava uma verdadeira seca.
Lembro-me de ouvir a Tracy nessa noite a dizer que a verdadeira diversão ainda estava por vir...
Bem, eu fiquei sem realmente perceber o que ela quereria dizer com aquilo...
Eram por volta das 02:30 da manhã quando alguém toca à campainha da casa da Traccy!
Ela foi abrir a porta e com muita alegria recebeu os últimos convidados da festa...
Eram 3 rapazes...
Entre esses 3 rapazes estava o Justin.
como já era de esperar porque a Tracy sabia que eu ainda gostava dele.
Depois de eles chegarem a festa continuou a bombar até altas horas da noite.

A dado momento o Justin dá ordem ao primo e ao amigo para darem os presentes de aniversário à Tracy!
Droga...Ia desde heroína a LSD...Eu fiquei apavorada, porque não sabia como reagir.
Como nunca consumi e nem tinha intenções disso peguei no meu casaco e fui beber o meu Red-bull para a varanda da Tracy!



De lá dava para ver todos os meus amigos, bêbados dentro da casa, todos loucos a cheirar cocaína e eu ali...a ver o ambiente toda enojada...
O Justin deu conta da minha falta e foi ter comigo à varanda.
Conversámos um pouco e ele admitiu que vende a droga mas que não consome e por isso, não tinha ficado admirado com o meu comportamento de eu me ter colocado de parte e ter ido para a varanda.
De um momento para o outro fiquei mais confortável ao voltar a falar com ele.
A conversa estava animada quando de repente a Trixxa, irmã da Tracy gritou bem alto lá da sala.
A Tracy estava a ter convulsão por causa das drogas...
Ninguém sabia o que fazer todos estavam apavorados e a chorarem.
Ambiente de histeria total.
Até que...A Tracy deixa de se mover...
Tracy morrera mesmo ali à frente dos nossos olhos...
A Trixxa foi buscar o telemóvel dela para telefonar para os bombeiros mas o Justin assustado apontou-lhe uma arma para que ela não o fizesse porque isso o denunciaria.
Justin já contava com um cadastro imenso de roubos, tráfico de droga e estava a ser procurado pela polícia local, então não queria ser denunciado.

Jeff, o primo de Justin disse para ele manter a calma porque ele estava muito alterado porque este tinha consumido grandes doses de cocaína antes de se dirigir para a festa, pondo assim em causa tudo aquilo que ele me tinha dito antes...
 E o Justin sempre a insistir para a Trixxa largar o telemóvel e ela nada...
O Justin puxa o gatilho e avisa-a que se ela não largasse o telemóvel ele iria disparar contra ela...O que Justin não sabia é que Jeff era apaixonado por Trixxa, então este pegou a sua arma e apontou para o Justin e mandou-o baixar a arma.
O Justin ao ver esta cena feita pelo primo dele, passou-se e disparou contra a Trixxa, no peito.
Os nossos amigos todos bêbados fugiram com esta troca de tiros.
O Jeff encheu-se de ódio puxou o gatilho e disparou contra o Justin, mas eu saltei para a frente dele, de forma a protegê-lo e acabei por levar um tiro no ombro esquerdo.
O Justin ficou possesso ao ver-me ferida e disparou contra o Jeff.
Um tiro certeiro na testa!
Um banho de sangue imenso.
O Justin ordenou que Chris o outro amigo dele fosse embora!
E ele assim o fez...Nunca mais ninguém soube nada dele...

O Justin estava consciente de tudo o que acontecera e estava assustado mas decidido a não me deixar ali...
Ele pegou em mim ao colo e...não me lembro mais nada dessa noite.
Apaguei completamente.
No dia seguinte acordei numa casa abandonada numa floresta imensa.
Eu estava com fortíssimas dores no ombro.
Justin estava a dormir ao meu lado.
Eu acordei-o e ele assustou-se, como é lógico, e perguntou-me como eu estava.
Eu falei a verdade...estava cheia de dores e estava com imenso calor.
Estava com febre, pois a minha ferida estava infectada.
O Justin não sabia o que fazer porque, eu sofria de diabetes.
E por mais que ele tratasse de mim, não iria resultar.
Eu iria morrer por falta de atenção médica...
Eu lhe pedi por favor inúmeras vezes para ele me levar ao hospital, mas ele não me levou.
O medo de ser preso e condenado por homicídio era enorme e por isso ele preferia não arriscar.
Preferia me deixar a morrer...
Passaram-se dias.
[...]
Eu estava fraca...já não comia à muito e o meu estado estava bastante agravado.
Eu mal tinha força já para me mover.
Vi o Justin deitado a dormir como um anjo.
Apesar de sermos Ex namorados, eu continuava a amá-lo mas, culpava-o da minha condição de saúde que estava a viver naquele momento.
Debrucei-me sobre ele, dei-lhe um beijo na boca ele abriu os olhos e sorriu.
Eu respirei fundo e disse-lhe que ainda o amava e nunca o iria esquecer, mas também nunca o iria perdoar pelo que me fez.
O sorriso dele desapareceu ao sentir uma pressão no peito.
Dei-lhe um tiro.
Ele morreu bem diante dos meus olhos.
Em seguida coloquei a arma na minha boca e disparei.
Ambos ficámos ali...Para sempre juntos...

Já se passaram 10 dias e a minha alma continua a divagar entre a casa da Tracy e a casa onde eu me suicidei...
Jamais encontrarei paz.
A Polícia foi contactada 4 dias depois do crime, pelo Chris ao fazer denuncia desse acontecimento macabro. 
Denunciando assim Justin e a mim por esses crimes horrendos...

Agora percebem porque não consigo dormir nem respirar fundo?
Porque os mortos não respiram nem dormem...


Kelsh Nickolson